Talvez o certo seja dizer: “O que eu entendi do que o Cacá disse“. É assim que ele gostaria que nos pronunciássemos referente a tudo o que ele disse nesses 10 dias (50 horas) de curso no Teatro Faap, em decorrência da temporada de “2x 2=5 – O homem no subsolo” seu solo Dostoiévskiano.
Seu conselho é: Tome o Cacá como objeto de estudo e não um exemplo a ser seguido.
A oficina intitulada “O subsolo criativo do ator”, estimula a imersão do ator em terrenos mais obscuros do próprio processo criativo, com atenção e foco em toda a composição artística do todo, que para Cacá não é ignorada em nenhum item da cena, muito menos num objeto: Só um ator de quinta acha que uma cadeira vale menos que ele, dispara ele.
Tive muitos insights, me identifiquei e foi de extrema importância poder sentar e ouvir ele divagar sobre a arte, seu processo de criação, os meandros dos (des)caminhos da profissão de atores e claro…várias informações extra curriculares. Em tempos obscuros é uma dádiva essa possibilidade de investigação teatral.
Abaixo, diria que são palavras saídas da boca dele e que rapidamente anotei, mas… como disse no primeiro parágrafo, o certo e dizer: o que eu entendi do que ele disse. Algumas eu já compactuava e foi muito acolhedor ouvir da boca de outro colega de profissão. Compartilho, pois considero pérolas. Fazem parte do que acredito e quero levar para sempre.
“Entre uma palavra e outra, não tem nada. Há o infinito, o subsolo. E o subsolo não se descreve. Se cria.”
“O trabalho tem que ser concebido para surpreender e dar desafios ao espectador. Ele é inteligente. Sua construção na minha frente me desconstrói e me obriga a me reconstruir na hora.”
“Você não pode ser o autor. Ele já foi. Então seja parceiro. Você sai da identificação e cria. Contribui”
“Eu não quero que você nos faça ver isso. Quero que você não nos deixe de ver isso”
“Não improvise. Trabalhe!”
“Um ator não vive cotidianamente. Ele só vive poeticamente. Existe uma possibilidade poética de se viver. Eu queria que isso não se perdesse de você.”
“O corpo reage as lógicas do contexto”
“O ator não vê apenas, tem que enxergar”
“Você pode ser capaz de reproduzir a estrutura. Porém, a questão é: onde se respira “a gente”. Onde o ser humano aparece?”
“O gestor dentro de si você tem que matar. Você não faz. Obedece. O ator viver uma experiência.”
“O espectador que gosta do trabalho é aquele que trabalha com o ator. Tem ativada a sua imaginação.”
“Coloque o ator na situação. Não deixe ele fazer discurso”
“Quando você estuda muito para fazer teatro, isso é péssimo!!! Você tem que viver a experiência.”
“Um tem que estar disponível e outro atirado. O teatro acontece entre um homem e outro”
“O artista não precisa ter talento. Precisa ter algo que não se compra, não se ensina, que se chama: entusiasmo. O ator que não tem entusiasmo não me interessa.”
“Não é como eu uso um objeto e sim como ele pede que eu aja.”
“O movimento interno do ator se lê”
“Quanto mais difícil for as opções cênicas, maiores as possibilidades de resultados. Se tudo estiver mão, o resultado é fraco. Quanto mais você facilita, menos fácil é de se encontrar riquezas.”
“Ninguém monta um trabalho pensando no fim. Eu não sei o sentido que ele vai ter.”
“Tem coisas que não nascem da criação e sim da desesperação“
“Quem tem seu drama vive, não fica forjando a realidade. Do contrário fica no clichê da informação. É ação ou lamentação? Perceber a diferença”
“Não é um encontro que te dá a consciência. É uma sequência de. Uma série de ofensas.”
“O ator procura a liberdade. O diretor o condena a prisão. O ator portanto está condenado a ser livre.”
“Quando nasce uma ideia, o ator fica escravo do improviso. A ideia é ponte, não uma prisão”