Assustada com o amor? Ah, não

No meu fim está o meu começo. (Chuang Tzu, filósofo taoista, séc. III a. C.)

escrita por Caio Fernando Abreu

(…) Assustada com o amor? Ah, não . Tanta gente querendo, tanta gente sentindo falta. E você de repente abençoada e confusa? Fica não. Mergulha, se joga, meu bem, Como diz meu amigo Vicente Pereira: “Segura o turbante, meu bem. E sente o ritmo.

(…)

A médica: quando o sofrimento emocional é muito grande, é ótimo que o corpo adoeça. Mente e corpo entram em sintonia. Desesquizofrenize. E pode começar a cura.

O terapeuta: viu como você consegue tudo que quer? Quase conseguiu morrer. Quer parar de voltar essa agressividade contra si próprio?

O guru: tanta coisa negativa tinha que sair de alguma forma. Agora os canais estão limpos para entrar o positivo. Você está passando por um processo de purificação.

(…)

Sei, é o trânsito dos 40 anos. Nunca pensei que fosse tão penoso. Dá umas coisas tão melancólicas. Como se você fosse forçado a sepultar muitas ilusões. Que se há de fazer, se eram mesmo ilusões? A verdade é que aqueciam, davam vontade de viver. Deve ser assim mesmo, suponho. Se é assim, deve estar certo assim.

Tem me ocorrido com muita frequência este hai-kai de Rasho:

“minha casa

se incendiou

vejo melhor

a lua nascente”

(…)

Estou naquela fase de anotar e ler coisas, à espera de que a vida (essa senhora tão temperamental) me dê mais alguns – digamos – subsídios.

(…)

Sinto que vai passando, que não quero mais morrer, que estou mais próximo de mim mesmo e que tudo isso – de alguma forma que ainda não compreendo bem – é necessário. Matar as ilusões, dar fim aos ciclos, amputar os membros putrefatos.

(…)

Carta de Caio enviado a Amanda Costa no dia 20/06/88, publicada no livro “360 graus – Inventário astrológico de Caio Fernando Abreu”

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