Uma noite de ausência(s)

...tai, eu fiz tudo pra você gostar de mim...

Hoje quase fui assaltado – novamente – e desta vez na porta do prédio, quando eu e minha amiga estavamos saindo. Ou melhor, eu levando ela para se divertir e “gozar” um pouco a vida. Percebi primeiro e fechei o portão e talvez isso tenha feito toda a diferença. A cidade está inóspita, e vazia, Salvador fica mais perigosa e perde todo seu encanto.

Ahhhhh o sol aquecendo os corações, enchendo os olhos e movendo multidões, muito mais impactante que a lua, que soa traiçoeira, capciosa e misteriosa.

Pois bem, não estava bem e não sai de casa. Na dúvida fiquei parado, é uma tática recente. Minha amiga diz que é intuição. Pois bem, ela – a tal da intuição – me coibiu e fiquei em casa. Não tava bem e ficar em casa é pretexto, não to sabendo bem pra quê, confesso.

Uma briga no msn com um amigo baiano potencializa a ausência noturna, enquanto minha amiga tenta ser feliz  – “felicidade se acha em momentos de descuido” já escreveu alguém – na cidade baixa, chove em Salvador, os amigos estão distante e as oportunidades a se fazer, eu, espero…

A discussão revela mais que o outro supõe. Expõe a mim de forma chata, daquelas que recusamos a revelar, por puro cuidado de não sermos aceitos, tolerados, (in) substituiveis.

Lembro de Cibele e de sua melodia cortante e asfixiante, quando eu morrer alguém toque essa música? Talvez do outro lado eu continue com medo.

mas me garantem: “…não te troquei e não te substitui por ninguém, seu lugar continua aqui, mas como te disse nada é igual. seria um porre se fosse…”

ahhh se eu não fosse virginiano será que precisaria menos de “certezas”? De provas “concretas”?  

“Eu chorava, no começo eu chorava e não entendia, apenas não entendia, e não entender dói” – Caio Fernando Abreu (O mar mais longe que vejo)

No msn fico teclando/trocando músicas, referências. Mal sabe ele  – a pessoa do outro lado do pc – que o próprio é uma referência de outra pessoa. Mesmo olho, mesmo signo, mesmo semana de aniversário, mesmo perigo, mesma fugacidade… estranho como as pessoas se completam e se referenciam, mesmo que não se conheçam. Como é bizarro as nossas referências.

( tenho em algum lugar dentro de mim uma referência literária sobre isso, mas não acho, me escapa no momento)

“… quem guiou você, vagou em mim…” amei essa música e tal estrofe. Quanto(s) já não “vagou em mim”? O próprio que me manda a música. O amigo que acabei de brigar e tantos outro(a)s.

me deparo com uma frase creditada a Clarice Lispector – autora preferida do Caio.

“O que te escrevo continua e estou enfeitiçada” – Clarice Lispector

E fiquei vago, depois da conversa, da briga, do quase assalto, do cachorro quente, da quase punheta, da conversa no telefone, de dois filmes tediosos, de um pedaço de alpino, uma olhada rápida no horóscopo, do jogo da copa, da louça lavada, do desastre em Pernambuco, do banho frio (a resistência esta queimada), da foto guardada, do vento que bate na janela constantemente, deste computador que potencializa minha situação, do dramin que não sei aonde está e queria me entupir, dessa esperença fútil e (des)necessária de que alguém me leia e modifique tudo, quem me guiou até aqui também me deixou vago.

“Quem lamenta as suas perdas, olha para os seus próprios pés. E quem olha para os seus pés, acha que o mundo é do tamanho dos seus passos” – Augusto Cury

estou a verificar meus pés, ou como diz minha amiga (e minha mãe): “maltrata-los”. Quero alargar meu olhar, mas ando tão cabisbaixo, tão olhando meus passos. A espera de poder/conseguir/decidir olhar para o horizonte e não mais para a forma como deixo as pegadas

e no final de tudo – por enquanto, por hoje – descubro esta versão da Tiê. Tornando tudo leve e lúdico.

Não é assim que as coisas deveriam ser?

“De repente eu me vi adulto e de mão vazias, sem sequer um eletrodomestico para satisfazer essas pessoas que nos exigem realizações o tempo todo” – Caio F. (23/12/71)

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4 respostas para Uma noite de ausência(s)

  1. Leco disse:

    As vezes “mudar” de cidade faz isso c a gente!! É tudo uma questão de adaptar!! 😉

    stay strong! E continue escrevendo! sempre!!!

  2. Claudia Lopomo disse:

    Que alma é essa? Identifiquei-me mais do que eu gostaria. Que coisa dôce essa versão de Se Enamora…
    Aqui vc faz uma falta imensa.
    bjo

  3. fouet disse:

    “De repente eu me vi adulto e de mão vazias, sem sequer um eletrodomestico para satisfazer essas pessoas que nos exigem realizações o tempo todo”

  4. Silvana disse:

    Um retorno sempre é possível, ainda que por um caminho que não conhecemos ou entendemos.

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